sábado, 20 de outubro de 2012

As aventuras de Capitão Lagrange - Capítulo 3 : Os outros ( parte 1 )

por Matemaníaco
Continua (daqui)

“Um império construído rapidamente, é um império de corsários e ladrões! Treinem os nossos homens para a pirataria, porque eu tenho pressa!” - Disse o imperador.
Fernão Hopes , “O império de may”

Eram 5h59min e David Lagrange acabava de chegar fardado e preparado à porta do escritório do comandante.
NIA estava desligada há mais de doze horas.
“NIA, liga-te.”
“Bom dia Capitão Lagrange.”
“Chama-me David”
“Desculpa. Deixaste-me desligada, chamo-te o que me apetecer.”
“Estou prestes a apresentar-me ao comandante. Só queria dizer-te olá e pedir-te desculpa.”
“Já disseste, e já pediste.”
NIA desligou-se.
A porta abriu-se e Lagrange entrou.
-Bom dia capitão Lagrange.
Pontualidade absoluta! Gosto disso num oficial!
-Sim senhor!
-Esteja à vontade. Viu toda a documentação que lhe foi mandada?
-Sim senhor!
-Importa-se de me dizer qual a nossa frota actual, sem recorrer às suas nanites?
-Uma nave de batalha, cinco cargueiros pequenos. Dez caças pesados e três caças pequenos.
-Quem comanda o Aristóteles?
-Aristóteles, cargueiro pequeno modificado com dispositivo de camuflagem, é comandado pelo capitão Dimitroc Jovian.
-Está bem, fez o trabalho de casa. Neste momento temos, um hangar nível 2 lá em baixo em Cronos. Em breve a nossa frota aumentará.
Como temos falta de homens, as naves serão totalmente automatizadas ou pilotadas por robots. No entanto, a rainha quer um grupo de naves comandadas por humanos.
O primeiro cruzador que produzirmos será teu.
Até lá acompanharás várias das nossas missões. Não te preocupes, não serás um turista. Vamos manter-te com trabalho sério.
Às 15 horas acoplará um caça pesado que te levará à superfície para a tua primeira missão. Receberás os detalhes na hora, por nanites.
E sê bem vindo a esta frota astral!
-Obrigado senhor.
-Ainda não tomei o pequeno almoço. Acompanhas-me?
-Obrigado pelo convite. Aceito sim senhor.
-Vamos deixar-nos de formalidades. Antes de chegarmos cá, a sua patente astral era de comandante, tal como a minha. A única coisa que nos distingue, é que servíamos senhores diferentes, tu estiveste um ano em coma e eu tenho mais 5 anos de experiência que tu.
-E eu venho de um ponto mais à frente no tempo.
-Em 10 anos o nosso universo alterou-se assim tanto? Vamos até ao refeitório. Conversamos pelo caminho.
-Nem por isso. Reinos passaram a impérios, impérios desapareceram... nada que não seja habitual há centenas de anos. A propósito... A contagem do tempo aqui, como se faz? Não faz sentido usarmos uma contagem do universo de onde viemos. Aqui há gente de várias alturas do espaço tempo.
-Dentro desta nave, continuamos a usar o calendário em vigor no reino oGamus, mas estabelecemos um novo calendário hoje à noite.
-Porquê hoje?
-Porque hoje, no nosso universo seria o aniversário da rainha Hara. Foi proposto pelos nossos cientistas.
-Como funciona?
-Foi escolhido um ponto de referência no tempo e os anos começarão a contar-se a partir de lá.
-E que ponto é esse?
-A data do primeiro registo de população feito por cá.
-Conseguiram registar toda a gente?
-Claro que não... e não sabemos nada de mais de metade da população. Registados só temos pouco mais de 2300, e de momento não podemos censurar quem não quis se registar. Não temos forma de garantir a segurança a toda a gente lá em baixo. Homens como nós são muito raros por aqui. A maioria dos comandantes morre ao chegar cá. Eu próprio readquiri a minha patente porque o comandante Jamaica, comandante desta nave morreu, e o nosso subcomandante, 2º na linha de comando teve azar numa missão em que supomos a nave onde ele estava saltou, e ninguém sabe para onde.
Mas mais raros que nós ainda são seguranças, e forças militares terrestres, e sem esses homens, não conseguimos manter a segurança lá em baixo.
-O comandante disse”readquiri”?
-Eu tive uns problemas com um almirante, e ele pôs-me na prisão por 2 meses, com redução de patente.
-Epa, isso é algo que eu gostaria de ouvir!
-Chegámos ao refeitório. Segue-me, temos prioridade.
Passaram à frente de uma fila de 20 pessoas.
-Bom dia senhor, o que é que vai tomar?
O comandante vira-se para Lagrange e pergunta-lhe:
-O que é que vais tomar?
-Um café com leite e uma sandes de bangue.
-O habitual para mim, um café com leite e uma sandes de bangue aqui para o capitão.
-Podem ir para a mesa. Já vos levo o pequeno almoço.
-Obrigado José.

Lagrange seguiu o capitão e sentaram-se numa mesa à janela. Via-se perfeitamente o planeta, e o enorme campo de destroços.
-Um campo tão grande não devia dar origem a lua?
-Os nossos computadores dizem que sim, mas nunca conseguimos a opinião de um astrofísico.
-Deixe-me adivinhar, também são raros!
-Sim, mas a rainha já conseguiu recrutar quatro que estão a estudar o caso a partir daqui, da esperança. Bom agora, diz-me tu, o que é que achas disto tudo?
-Para mim, é tudo novo. Desde ter nanites, a cicatrizes em várias partes do corpo... Até o meu... “instrumento” é novo! Depois este lugar, voltar a ser capitão, … Isto é algo que não acontece a ninguém! Nem na melhor ficção que temos! Sou um homem novo num lugar novo.
-A rainha disse-me que as suas nanites são de à volta de 2100CO, nanites a um nivel acima de 80?
-Sim, e não... não são nanites como as feitas nas nossas fábricas de nanites ou como as nanites imperiais habituais. Pelo que percebi são nanites desenvolvidas de raiz especificamente para seres humanos, pois parece que a partir de certa altura tornaram-se obrigatórias em todos os seres humanos para controlo de doenças.
-Estou a ver, e pelo que percebi, essas também têm uma IA?
-Sim... mas o senhor está muito bem informado!

-Não aceito ninguém com tecnologia ao meu serviço sem estar informado sobre ela.
-Boa filosofia. Sim, tenho uma IA, cujo avatar deve ser a mulher mais atraente que eu alguma vez conheci na vida. E está a dar comigo em doido ela não ser “real”.
-Ó David, há várias soluções para isso, mas a melhor que posso dar-te é que arranjes uma namorada real, e mantenhas a relação com a tua IA profissional.
-Eu já me disse isso algumas vezes... mas é ela que está literalmente sempre na minha mente. Optei por mantê-la desligada e usar um interface mais tradicional.
-Por mim, até podes casar com a tua IA, que não serás o primeiro a fazer isso. Só espero que essa relação não interfira negativamente no cumprimento das tuas obrigações para com a frota astral .
-Convenhamos que a ideia de ter uma IA com estas características e com personalidade completa em nanites não me parece ser a ideia mais feliz que vão ter num futuro próximo.
-Não sei, devem ter tido alguma boa razão para isso. Pode ser que a descubras.
Entretanto chegou o tal José com os pequenos almoços. Colocou-os na mesa.
-Cá está meus senhores. Tenham uma boa refeição.

E afastou-se,
-Vou ser honesto contigo. Gosto da tua sinceridade, do que vi da tua folha de serviço, invejo a tua IA, e não gosto que sejas amigo da rainha.
-Qual é o problema de eu ser amigo da rainha? Eu valho por mim mesmo. Não preciso de favores de ninguém!

-Sim, mas se não fosses amigo da rainha, hoje não estarias aqui. Só estarias aqui depois de teres te registado lá em baixo.
-Eu não sabia de nada disso.
-Não te preocupes, sei que não pediste nada disto. Eu reconheço um bom homem quando vejo um.
Assim que acabaram, saíram do refeitório e despediram-se um do outro:
-Gostei de te conhecer capitão Lagrange. Sempre que puderes, aparece.
-Igualmente comandante Otárius.

Lagrange voltou para a sua cabine. Deitou-se na cama e activou o programa tutorial nas suas nanites.
Na sua mente, Lagrange voltou à sala toda branca, onde estava sentado à frente de NIA.
Levantou-se, chegou à frente de NIA, agarrou-a e beijou-a... “à francesa”.
NIA a princípio não reagiu. Depois, correspondeu ao beijo.
“Foi por isto que não te liguei ontem. Desde que te conheço que não sais da minha mente.”
“Sim, mas, eu fui desenhada para ser assim!”
“Não é isso que eu quero dizer... quer dizer... se calhar até é. A verdade é que não quero saber. Estou doido por ti.”
“A sábia avisou que isto era má ideia.”
“Que se lixe a sábia. Preciso de saber, que sentes tu?”
“Sinto que estou confusa. Primeiro ignoras-me, depois de repente isto...”
“Está bem, eu já te pedi desculpas, e volto a pedir. Tu beijaste-me de volta!”
“Sim, beijei. Não te sei justificar porquê. Deve ser parte do meu programa.”
“Esquece o teu programa. Diz-me... porque te aborreceste por eu não ter-te ligado ontem?”
“Devo estar a precisar de manutenção.”
“Não precisas de manutenção nenhuma! Podes ser uma IA, mas és uma mulher, e sentes algo por mim!”
“Isso é muito presunçoso não te parece?”
“Faz uma análise de sistemas, mas eu quero voltar a beijar-te.”
“Eu não quero ser o teu software de fantasias eróticas”

NIA terminou o programa e desligou-se.
Lagrange acorda e olha para o relógio -screensaver no monitor na parede.
-8h00. Definitivamente uma IA nas minhas nanites foi uma péssima ideia.
Sentando-se à frente do monitor diz:
Computador, manda esta mensagem à rainha Hara: “Parabéns Hara”.
“Mensagem enviada”
-É possível contactar alguém à superfície do planeta?
“Negativo. As comunicações para o planeta requerem uma autorização E-alfa-aleph.”
-Onde arranjo isso?
“As autorizações E-alfa são emitidas pela IA central desta nave, automaticamente.”
-Óptimo, tenho de esperar que ela se lembre de mim!
“Um ele neste caso. Bom dia Capitão Lagrange, eu sou o IAC Esperança, a inteligência artificial central da nave Esperança. Precisa de uma autorização E-alfa-aleph? ”
-Sim, preciso de contactar a minha médica, Glorie Boavida.

(continua)

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